segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Um final mais feliz

"Vi-o naquelas cores tão honrradas mas tão insensíveis e pedi a Deus que estas não se transformassem em sangue do meu amado.
Beijou-me o gesto molhado enquanto lhe consertava a farda e apertei-lhe os atacadores tal como as suas mãos trémulas.
- Mãe, o senhor chegou.
Apressei-me à entrada do sofrimento, abri-a de coração perdido e cai no chão num choro que se igualava o estrondo dos rastilhos e das balas da Pátria.
Não o queria perder. Não para algo em que não acreditava. Quem faz a guerra que morra nela mas não roubem aqueles que têm outras batalhas: a da felicidade e simplicidade, que era a nossa.
Com todo aquele mar salgado, que me roubava o oxigénio e o marido, não o consegui ver, mas imaginei-lhe os passos de despedida.
- Nunca percas a esperança, meu amor. - Dirigiu-se ao meu corpo sem alma, penso eu.
E foi a última coisa que ouvi dele."

Aplaudiram pelo acto de corajem da viúva, logo que esta largou o microfone. Uma a uma as pessoas entregavam-lhe os seus pêsamos e beijavam a face rechonchuda do rapaz que agora iria partir em nome do seu falecido pai, desejando-lhe um final mais feliz.

Never Believe in Dark Lights
Tikita

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